sexta-feira, 22 de novembro de 2013

"Eu lírico": um percalço estético?

"Pensemos agora como ele, entre essas repro­duções, avista também a si mesmo como não-gênio, isto é, seu "sujeito" [Subjekt], todo o tumulto de suas paixões e aspirações subjetivas dirigidas para uma determinada coisa que lhe parece real; se agora se nos afigurasse como se o gê­nio lírico e o não-gênio a ele vinculados fossem um só e co­mo se o primeiro proferisse por si só aquela palavrinha "eu", então essa aparência não poderia mais nos transviar, como sem dúvida transviou àqueles que tacharam de lírico o poeta subjetivo. Na verdade, Arquíloco, o homem apaixonada­mente ardoroso, no amor e no ódio, é apenas uma visão do gênio, que já não é Arquíloco, porém o gênio universal, e exprime simbolicamente seu sofrimento primigênio naque­le símile do homem Arquíloco: ao passo que aquele homem Arquíloco que deseja e quer subjetivamente não pode jamais e em parte alguma ser poeta". (NIETZSCHE, 1992:45)

A "eudade" (Icheit) é um mecanismo de objetivação do próprio poeta lírico, dada a ausência de "matéria-prima" imagética para a (re)produção criativa de imagens apolíneas. Não há, entretanto, uma identidade lógica entre o homem empírico-real e esta "eudade". A Icheit é meio para a investigação que o poeta opera em busca do Inaudito em face da inevitabilidade do Uno-primordial.

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