quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Socrátes entre antigos e modernos

Que Sócrates estivesse estreitamente relacionado à tendência de Eurípides, foi algo que não escapou a seus contempo­râneos, na Antigüidade; e a expressão mais eloqüente dessa percepção feliz é aquela lenda circulante em Atenas, segundo a qual Sócrates costumava ajudar Eurípides em seu poetar. Am­bos os nomes eram pronunciados num só hausto pelos parti­dários dos "bons velhos tempos", quando se tratava de enu­merar os desencaminhadores do povo de então: de sua in­fluência deriva, dizia-se, o fato de que a antiga, maratoniana e quadrada solidez do corpo e da alma seja vítima, cada vez mais de um duvidoso Iluminismo, em uma progressiva atro­fia das virtudes tradicionais. Nesse tom, meio indignado e meio desdenhoso, sói a comédia aristofanesca falar daqueles dois homens, para espanto dos modernos, que na verdade renun­ciam de bom grado a Eurípides, mas não podem parar de admirar-se que Sócrates apareça em Aristófanes como o pri­meiro e o supremo sofista, como o espelho e o resumo de todas as aspirações sofísticas: diante disso só lhes resta um con­solo, o de colocar o próprio Aristófanes como um devasso e mentiroso Alcebíades da poesia. (NIETZSCHE: 1992;84)

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