quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Agenda de Exposições

05/02/2014: Capítulos 13 a 15 - Andressa
12/02/2014: Capítulos 16 a 18 - Luana
19/02/2014: Capítulos 19 a 22 - Leonardo
26/02/2014: Capítulos 23 a 25 - Ellen Caroline

Próxima Leitura: Março/2014
Introdução à Tragédia de Sófocles (Friedrich Nietzsche)
Tradução: Ernani Chaves


Prazos de Atividades Escritas

Conforme deliberado na reunião do dia 15/01/2014, os discentes deverão enviar os seguintes trabalhos:

Até 15/02/2014: Ensaio relativo ao conceito de decadência da cultura.

Até 15/03/2014: Artigo sobre tema livre concernente ao Nascimento da Tragédia.

Vergessen Sie nicht!

Socrátes entre antigos e modernos

Que Sócrates estivesse estreitamente relacionado à tendência de Eurípides, foi algo que não escapou a seus contempo­râneos, na Antigüidade; e a expressão mais eloqüente dessa percepção feliz é aquela lenda circulante em Atenas, segundo a qual Sócrates costumava ajudar Eurípides em seu poetar. Am­bos os nomes eram pronunciados num só hausto pelos parti­dários dos "bons velhos tempos", quando se tratava de enu­merar os desencaminhadores do povo de então: de sua in­fluência deriva, dizia-se, o fato de que a antiga, maratoniana e quadrada solidez do corpo e da alma seja vítima, cada vez mais de um duvidoso Iluminismo, em uma progressiva atro­fia das virtudes tradicionais. Nesse tom, meio indignado e meio desdenhoso, sói a comédia aristofanesca falar daqueles dois homens, para espanto dos modernos, que na verdade renun­ciam de bom grado a Eurípides, mas não podem parar de admirar-se que Sócrates apareça em Aristófanes como o pri­meiro e o supremo sofista, como o espelho e o resumo de todas as aspirações sofísticas: diante disso só lhes resta um con­solo, o de colocar o próprio Aristófanes como um devasso e mentiroso Alcebíades da poesia. (NIETZSCHE: 1992;84)

Essência do Socratismo Estético

Eurípides

"Tendo pois reconhecido amplamente que Eurípides não conseguiu fundar o drama unicamente no apolíneo, que sua tendência antidionisíaca se perdeu antes em uma via natura­lista e inartística, devemos agora nos acercar mais da essên­cia do socratismo estético, cuja suprema lei soa mais ou me­nos assim: "Tudo deve ser inteligível para ser belo", como sentença paralela à sentença socrática: "Só o sabedor é vir­tuoso' '. Com tal cânone na mão, mediu Eurípides todos os elementos singulares e os retificou conforme esse princípio: a linguagem, os caracteres, a estrutura dramática, a música coral. O que nós, em comparação à tragédia sofocliana, cos­tumávamos levar tantas vezes à conta de Eurípides como de­feito, é principalmente produto desse penetrante processo crítico, dessa atrevida intelecção". (NIETZSCHE:1992;81)

Exercício de Leitura: Luiz Felipe

Um dos ritmos mais ouvidos hoje em dia no Brasil é o funk. Analisando-se, embora superficialmente, as letras desse estilo, observa-se um certo descuido no que diz respeito ao uso da língua, pois encontramos frases mal elaboradas, vazias, pornográficas, cheias de erros gramaticais, sem preocupação estilística no sentido de trabalhar a linguagem. Entretanto, as pessoas que apreciam tal estilo musical são levadas apenas pelo ritmo, sem se importarem com o conteúdo e emoção. Desse modo, pode-se dizer que, quando se ouve o funk não cria um estado dionisíaco, onde o indivíduo pode se sentir bem com o uno primordial; a música é fraca, a batida; nunca inova e as letras são esvaziadas semanticamente.

Assim, musicalmente, o funk não quer dizer nada, não serve nem para  mostrar a realidade do povo porque não fala dele mesmo, o sucesso desse estilo vem da exploração sexual que se tira daí.

Quando analisamos cantores como Renato Russo, percebemos que o sucesso de sua música vem da poesia das suas letras, não do som. Renato Russo, portanto, é muito mais um poeta que um músico. Em músicas tais como “Faroeste Caboclo” e “Que país é esse” percebemos letras boas, com crítica social bem feita, mas não cria o efeito que a música deveria criar, as pessoas não escutam Renato Russo para alcançar um estado dionisíaco.

O interessante é que quando comparamos os tipos musicais com a música feita por compositores eruditos, tal como Chico Buarque, percebemos uma grande diferença, podemos ver tanto a música quanto a letra sendo de níveis bons, sendo possível em algumas músicas adentrar esse estado dionisíaco.

Em minha opinião, a banda que mais chegou perto de um estado dionisíaco foi a banda “The Doors” com o seu excelente cantor Jim Morrison, que foi um grande estudioso de Nietzsche, era possível ver sua música e sua dança como estados dionisíacos, é claro que se pode afirmar que isso vinha do uso de drogas, porém eu consigo ver ali o espírito da música que possibilitou a tragédia grega. 

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Reunião do dia 29.01.2014

Prezados,

A reunião do Grupo da quarta-feira 29.01.2014 será realizada no Centro Pedagógico Paulo Freire, às 15:00, na sala 205, Asa Sul.

Bis bald!

Exercício de Leitura: Luana Ihringer

Exemplos Estéticos Contemporâneos da Decadência do Trágico:

Luana Elisabeth Martins Ihringer1



A decadência do trágico implica para Nietzsche na decadência da Cultura Contemporânea. Podemos perceber que a falta do espírito trágico na estética contemporânea é o principal ponto da crítica Nietzschiana.

Nietzsche mostra que apenas com o retorno do trágico é possível sair da decadência. Observa-se que essa decadência só aumentou com o advento da Industrialização e o apogeu do Capitalismo, onde tudo, inclusive a arte tornou-se mera mercadoria.

É interessante analisar como a banalidade da era do consumo interfere na arte e posteriormente no modo de alguns indivíduos contemporâneos. No Brasil, pode-se notar essa decadência no âmbito musical, por exemplo, o Funk Carioca e a sua relação com o movimento “rolezinho”.

O Funk no Brasil é um estilo musical oriundo das favelas do Rio de Janeiro, que vem se disseminando por todo país. Muito polemico por suas letras abordarem temas como ostentação, rebaixamento da figura feminina, apologia ao sexo, tráfico, consumismo e conteúdo obsceno e vulgar, fora a carência de criatividade.

O que quero destacar é como esse estilo musical, que é um forte exemplo da decadência cultural, interfere diretamente no modo de vida, na maneira de se vestir, no comportamento e pensamento das pessoas que são adeptas ao Funk Carioca.

Recentemente muitos pensaram que o “Rolezinho” (Evento combinado em redes sociais por jovens, para se concentrarem nos shoppings), tinha algum caráter político, de manifestação contra preconceito, racismo e discriminação social. Porém, uma reportagem, disponível no site da UOL (http://mais.uol.com.br/view/1575mnadmj5c/voce-conhece-as-rolezeiras-descubra-quem-sao-e-o-que-pensam-essas-meninas-04024E9B3162CCC14326?types=A), retrata bem qual é a verdadeira finalidade dos “Rolezinhos”.

O titulo da reportagem é: “Você conhece as rolezeiras? Descubra quem não e o que pensam essas meninas”, basta um clique para começar a serie de asneiras com fundo musical Funk Carioca, relatadas em 02:54 de vídeo, onde meninas adolescentes explicam que “role legal é você beber, curtir, beijar e zuar”. Onde meninas combinam de ir vestidas com short, tomara que caia e melissa, o que caracteriza um padrão de beleza a ser seguido. Uma das garotas relata que “tem que ir igual piriguete... vestido curto, short, tem que vim assim né?” outra diz que “não adianta vim largada, porque não vai arrumar ninguém, a gente vem pra cá, para conhecer gente bonita, por isso a gente tem que ta bonita também”. Mas o que é bonito? O padrão?

“Os meninos não tem papo, eles chegam e falam:
- E ai vamo fechar?
E pronto. Tem uns meninos que chegam e diz, a você é gata, é perfeita, desse eu gosto, agora tem outros que são muito brutos, chega agarrando, querendo outras coisas, xigam quando a gente não quer ficar”.

Nota-se que a música Funk influencia os padrões de beleza, o modo de agir com violência, a antecipação da sexualidade, a ostentação e o consumismo, a vulgaridade. Outra menina diz: “Tem que ser bermuda branca, um Nike Shox e uma camisa da Holliester ou da Aeropostale, um Juillet e um boné, esse é o garoto perfeito do role”.

A analise é, como o Funk Carioca, exemplo da decadência da cultura vem influenciando estereótipos e a depreciação de valores, principalmente dos jovens, não só da classe baixa, dos morros e favelas do Rio de Janeiro, mas de todos os ouvintes desse estilo musical Brasil a fora.



      Graduando Licenciatura em Filosofia, Universidade Federal do Maranhão – UFMA, São Luís – MA, 2014.1

Exercício de Leitura: Leonardo Sousa

METALLICA Á LUZ DE FRIEDRICH NIETZSCHE: O RESSURGIMENTO DO TRÁGICO ATRAVÉS DA CANÇÃO DE HEAVY METAL THE CALL OF KTULU

Leonardo Silva Sousa – Filosofia

                     Podemos observar que boa parte dos acontecimentos ou fenômenos são indizíveis, por muitas vezes indecifráveis. No caso deste breve texto, encontramos o fenômeno estético da produção artística: seja pelo teatro, pelas composições musicais, pinturas ou até mesmo esculturas que nos preenchem com sua força e vivacidade, sentimos prazer quando escutamos uma canção que nos recorde a infância ou o primeiro amor, contemplamos uma agradável leitura seja na literatura de Albert Camus ou Oscar Wilde, e até mesmo caímos em lágrimas quando um ator executa tão bem a sua performance em um espetáculo teatral.
                   Ferreira Gullar, poeta e escritor brasileiro comentara o seguinte a respeito da arte: “Sobre poesia eu não penso, eu simplesmente faço: a minha poesia nasce do espanto. Qualquer coisa pode espantar um poeta, até um galo cantando no quintal. Arte é uma coisa imprevisível, é descoberta, é uma invenção da vida. E quem diz que fazer poesia é um sofrimento está mentindo: é bom, mesmo quando se escreve sobre uma coisa sofrida. A poesia transfigura as coisas, mesmo quando você está no abismo. A arte existe porque a vida não basta”. Em suma, a arte é esse espanto, essa tomada de energia e força, o sublime o prazer ao contemplar uma manifestação artística.
                    Assim como o poeta Ferreira Gullar, encontramos num jovem professor de letras clássicas, nascido no vilarejo de Röcken, próximo a Leipzig, na Alemanha em 15 de outubro de 1844 esta tão delicada e profunda preocupação com o movimento estético da arte. O então jovem professor de Letras e futuro atende pelo nome de Friedrich Nietzsche e pelo nome não preciso dizer mais nada: Mediante a força e vivacidade de suas frases e pensamentos jogadas ao vento, ou melhor nas redes sociais como facebook e orkut e sua conotação como “louco”, “ateu” e até  mesmo “anti-cristo” por fãs menos desavisados.
             O filósofo alemão como pautado no parágrafo anterior preocupava-se atenciosamente como o fenômeno estético da arte que dedicou sua primeira obra como filólogo e posteriormente filósofo para este excitante assunto. Sua obra atende pelo nome de “O nascimento da tragédia no espírito da música” que publicada em 1872 já despertava polêmica pela sua problemática abordada nos primeiros capítulos: Tal obra tinha como intuito desafiar a concepção estendida ao longo da história da civilização grega: uma civilização conhecida pela justa medida, virtuosidade e serenidade, exímias “criaturas de intelecto” e pontuava na produção artística de Wagner, a redenção da cultura do povo alemã, ofuscada pela técnica, perdida em meio á “Maldição do intelecto” protagonizada pelo artista Sócrates cujo falarei mais a frente.
                  Sobre esta exímia obra, não pretendo discorrer sobre todos os capítulos, mas trazer elementos que estruturem o problema deste trabalho: Sobre a decadência da cultura artística de nossos tempos e sobre uma possibilidade de redenção e louvor ao trágico na perspectiva do pensamento de Friedrich, no tocante as manifestações musicais de nossa atual época, pelo qual irei me preocupar. Para isto, recorrerei há alguns capítulos de O nascimento da tragédia para estruturar este problema.
                 O nascimento da tragédia de 1872, primeira obra do filosofo alemão Friedrich Nietzsche nos leva tentar refletir o que foi a tragédia para os gregos e como ela surgiu. Logo, o que significaria para os gregos e qual seria o objetivo do mito trágico para uma civilização tão sábia e virtuosa, segundo os relatos ao longo de enciclopédias e livros? Nietzsche vai pontuar que a tragédia grega surge da efervescência de dois elementos da arte trágica: O apolíneo e o dionisíaco onde estes espíritos dominaram com suas respectivas características a cultura grega onde em alguns momentos o espírito dionisíaco emergia com toda força em uma determinado período como em outro a imagem apolínea domina a civilização grega propondo quietude, idealismo e moderação em outro período.
“Teremos ganho muito a favor da ciência estética se chegarmos não apenas a intelecção lógica mas á certeza imediata da introvisão [Anschauung] de que o contínuo desenvolvimento da arte está ligado a duplicidade do apolíneo e do dionisíaco, da mesma maneira como a procriação depende da dualidade dos sexos em que a luta é incenssante e onde intervêm periódicas  reconciliações.” (NIETZSCHE, 2007, pag. 24)

                Mas o que seria o Apolíneo e o Dionísiaco? Para isto devemos conceituar estas imagens, sobretudo os deuses que a representam. Começamos por Apolo, que é o deus da imagem da justa-medida, do comedido cujo é a personificação da imagem onírica de beleza: Nesta concepção é Apolo representado pela imagem do sonho, pela sua sabedoria e serenidade. Já o Dionísio, é considerado o Deus da floresta (Por ter sido expulso do Olimpo e habitar as matas e floresta na companhia das ninfas e dos sátiros) caracterizado pela força, pela vontade, pelo êxtase e por fim, pela embriaguez. Vemos dois Deuses com forças e características totalmente opostas aqui, mas como estariam eles relacionados com a civilização grega e digo mais, coma a condição de ser do homem? Para Nietzsche é através da dualidade do sonho apolíneo e da embriaguez dionisíaca que o homem é capaz de sentir com força a intensa força destes elementos em sua existência.
                          Para continuar discorrendo sobre a força desses Deuses, é necessário caracterizar o que seria principio de individuação e uno primordial. Este primeiro aparece na filosofia de Arthur Schopenhauer, do que Nietzsche fora influenciado pela suas idéias, onde encontramos elementos de sua filosofia, na obra O nascimento da tragédia.  Oprincipium individuationis é designado como aquilo que separa os seres (no caso os homens, de sua espécie ou gênero) como seres únicos e individuais com suas características e atributos bem definidos. Este conceito de Schopenhauer relaciona-se com a imagem de sonho Apolíneo em medida que este personifica uma imagem, uma idealização de perfeição e exemplo. O principio de individuação separa os homens uns dos outros, convertendo-os em seres únicos e individuais.
Apolo porém, mais uma vez se nos apresenta como o endeusamento do principiumindividuationis, no qual se raliza, e somente nele, o alvo eternamente visado pelo Uno-primordial, sua libertação através da aparência: ele nos mostra com gestos sublimes quão necessário é o mundo do tormento, a fim de que, por seu intermédio, seja o individual forçado a engendrar a visão redentora e então, submerso em sua contemplação, remanesça tranqüilamente sentado em sua canoa balouçante, em meio ao mar. (Nietzsche, 2007, pag. 37)


                     O uno primordial vai se caracterizar por ser contrário ao principio de individuação. É a unidade que reúne os seres, rompendo com o que separa uma criatura de outra, onde ambos cultivam os mesmo sentimentos como dores e prazeres numa relação que vincularia num laço entre seres (no caso, os homens). O uno primordial é para Nietzsche, caracteriza como um ser que sofre: Que se encontra em intensa dor e vai encontrar e na aparência da beleza sua redenção ao contemplar uma manifestação artística. Logo, o uno primordial relaciona com o Deus Dionísio, que por ser o Deus da floresta está mais relacionado com os humanos, com as ninfas e os sátiros. O Uno primordial seria a reconciliação dos seres que estavam a caminhar pelo ideal apolíneo do principio de individuação onde a unidade primordial rompe as barreiras de cada um dos seres, trazendo-os para a íntima sincronia do uno primordial.
“Assim como agora, os animais falam e a terra dá leite e mel, do interior do homem também soa algo de sobrenatural: ele sente como um Deus, ele próprio caminha agora tão extasiado e enlevado, como vira em sonho os Deuses caminharem. O homem não é mais artista, tornou-se obra de arte: a força artística de toda a natureza, para a deliciosa satisfação do Uno-primordial, revela-se aqui sobre  o frêmito da embriaguez.” (Nietzsche, 2007, pag. 28)

                      Até agora, analisamos alguns dos principais conceitos encontrados na obra deste homem letras para agora, partimos para a seguinte problemática: Qual seria a necessidade de uma civilização, se Sócrates a Platão que semeava a serenidade, o comedido e a virtude aos seus da tragédia? E vou além: porque esta civilização necessitou da presença de seres olímpicos em suas existências? Para tentarmos responder a esta inquietação, devemos nos atentar ao capitulo três do nascimento da tragédia no tocante a lenda do Rei Midas e do sábio Sileno:
“Reza a antiga lenda que o rei Midas perseguiu durante longo tempo, sem conseguir captura-lo o sábio Sileno, o companheiro de Dionísio. Quando por fim, ele veio cair em suas mãos, perguntou-lhe o rei qual dentr as coisas era melhor e a mais preferível para o homem. Obstinado e imóvel, o demônio calava-se até que, forçado pelo rei, prorrompeu finalmente, por entre o riso amarelo, nestas palavras: Estirpe miserável e efêmera, filhos do acaso do tormento! Por que me obrigas a dizer-te o que seria para mais salutar não ouvir? O melhor de tudo é para ti inteiramente inatingível: não ter nascido, não ser, nada ser. Depois disso, porém o melhor pra ti é logo morrer”. (Nietzsche, 2007, pag. 3)

                      O homem grego sentiu as inquietações da existência, o pavor da morte e para viver necessitou da representação onírica dos Deuses, para assim poder dar sustentabilidade as suas existências. Era a personificação dos Deuses, suas perfeitas características e imagens que serviam como diretriz para o melhorar de sua conduta, e isto só foi permitido pela contribuição do impulso apolíneo de beleza do qual Apolo, Deus do comedido, da imagem e do equilíbrio tem por atributo em suas características.
                     Este é um forte exemplo encontrado no nascimento da tragédia que contribuiu para que o grego, através dessa idealização dos seres olímpicos se converter em Principio de individuação. Aqui, exalta-se a justa-medida, equilíbrio e intelecto neste homem que se converte em único, transformar-se num ser individual. Contudo, Nietzsche nos pontua que em sua obra, a história da civilização grega fora dividida em momentos de reinados Apolíneos e dionisíacos onde os momentos apolíneos são caracterizados pelo equilíbrio e justa medida de intervenção das orgias festas, onde o homem grego se converte em civilizado. Já o dionisíaco encontrado inicialmente nestas festas, de Roma a Babilônia, entre os gregos mais tribais e mais rupestres.
                   Pontuamos as diferenças aqui entre o Principio de individuação (Ideal apolíneo) junto ao Uno-primordial (Dionísiaco). Mas porque ambos são tão contrários, tão distantes um do outro? É que ambos precisam se reconciliar, assim como a dualidade dos sexos, esse conflito intenso entre dois gêneros diferentes que conflitam-se mas que para Nietzsche precisam um do outro de forma visceral. Ao longo da história da humanidade, observamos que o domínio Apolíneo emergiu com extrema voracidade desde da fome de busca pelo “nada em demasia” e “conhece-te a ti mesmo” protagonizada pelo gorducho Socrátes no mundo do conhecimento assim como as restrições e valores puritanos da Rainha Vitória em seu Reinado na Inglaterra Vitoriana em meados do séc. XIX como exemplo. No entanto, o Dionisíaco quer aparecer com toda sua fome e força ao homem grego, e claro aos homens de nossa época.
                   Para acentuarmos a força e violência do movimento dionisíaco necessitamos recorrer a seguinte citação da obra aqui trabalhada: “O artista já renunciou á sua subjetividade no processo dionisíaco: a imagem, que lhe mostra a sua unicidade com o coração do mundo, é uma cena de sonho, que torna sensível aquela contradição e aquela dor primordiais juntamente com o prazer primigênio da aparência.” (Nietzsche, 2007, pag. 41)Dada esta citação, Nietzsche pontua que quando o artista renuncia a sua subjetividade, a idealização da imagem, este artista esta experimentando o fenômeno do frênese dionisíaco: sua interpretação não é sua, mas de todos. A sua dor e gemido novamente, não são seus  e esta criatura é tomada pelo espírito do Deus da embriaguez Dionisio, e todos aqueles presentes no fenômeno artístico caminham em perfeito sincronia ao Uno-primordial. Em suma, o êxtase dionisíaco ofusca a realidade cotidiana e faz com que o espectador mergulhe na intensa realidade dionisíaca e se esqueça de sua existência cotidiana, da sua vida real. Contudo, é um evento temporário, e quando esse indivíduo volta para a realidade, sente o desagradável sentimento de deparar-se com sua antiga realidade. Isto não só acontece com aquele que é espectador, mas também com aquele interpreta as dores, angústias e prazer são ali compartilhados. E assim, todos ali presentes convertem-se em um, convertem-se em Uno primordial.
                   Para Nietzsche, a técnica, a personificação da imagem estraga o fenômeno estético e o encontro com esta realidade dionisíaca mencionada pelo filosofo alemão. É a música, segundo Nietzsche isenta de imagens ou técnicas em sua reprodução a maior manifestação artística de Dionísio, como a música de grupos tribais, caracterizada pela força violenta do som e potência latente dos arranjos músicas, características do Deus da floresta Dionísio. Logo, o coro dionisíaco é a redenção da civilização grega, este coro que faz com que as mentes humanas se direcionem ao delírio dionisíaco. Estes libertam-se de suas individualidades e  amarras institucionais, libertam-se da “apertada gravata” e do “elegante terno”  para assim caminharem em direção ao Uno-primordial, ao encontro da força desmensurada do Deus da Floresta, Dionísio
“Aqui já se trata de uma renúncia do individuo através do ingresso em uma natureza estranha”. (NIETZCHE, 2007 , pag. 57)

                  Diante destas constatações, voltamos agora para o problema tratado no inicio destas linhas: O problema das manifestações musicais de nosso período! Nunca, ao longo da história da humanidade, assim eu penso, que a produção musical de nossa atualidade, nunca em outra época o espírito do Deus da perfeita imagem Apolo apareceu com tanta força e vivacidade. E digo mais: Apolo, Deus da imagem e sonho não pode ser taxado como o único vilão de nossos tempos, mas sim um homem sábio sem sombra de dúvidas que para o filósofo e homem de letras Nietzsche foi a besta que dominou sua época como domina também nossos tempos. Recorro ao texto, precisamente aos capítulos doze e treze para alimentar as idéias deste problema. 
                 Coloco nestas linhas as seguintes palavras de Nietzsche em O nascimento da tragédia: “Dionísio já havia sido afugentado do palco trágico e o fora através de um poder demoníaco que falava pela boca de Euripides. Também Euripides foi em certo sentido, apenas mascara: a Divindade, que falava por sua boca não era Dionísio, tampouco Apolo, porém um demônio de recentíssimo nascimento chamado SÓCRATES.” (2007, NIETZSCHE , pag. 76). Para Nietzsche, o socratismo com sua tradição, seu elogio e veneração á racionalidade ao homo intelectus é para o “bigodudo” a cólera de sua e de nossa época.  Eurípides, poeta trágico do séc. V a.c foi um dos responsáveis ao lado de Sócrates, por objetivar em sua produção artística a personificação do melhoramento das ações humanas do homem grego. Em suma, é através de sua Nova Comédia Ática tinha por intuito atrelar o apolíneo em suas tragédias com fortes pitadas da tradição socrática em meio ás máximas “conhece-te a ti mesmo” e “Nada em demasia”, alvo de fortes críticas de nosso filosofo alemão, tal atividade aniquilava as forças do Deus da Floresta, despedaçava a latente força do Uno-primordial, e tornava a arte um mero simulacro apolíneo-socrático. Eurípedes é responsável por transmitir a curiosidade intelectiva aos seus, a busca pelo conhecimento em suas tragédias e o sábio Sócrates só concordou com o intuito artístico deste poeta.
                  A tradição socrática invadiu ao longo da história todas as camadas que podia penetrar: Ciência, Ética, Filosofia, Moral! E o culto estético ao intelecto e a razão estava consumado, era regra a ser seguida! Não necessitamos de tantos exemplos ao longo da história, e nem necessitamos ir tão longe assim. É só nos voltarmos á racionalistas como Leibniz e Descartes, este segundo que para Nietzsche caso viesse a ser perguntado sobre tal, poderia considerá-lo a segunda besta ao lado do grego Sócrates com a sua tão louvável Res Corgitans e sua máxima: “Penso, logo existo”. E no final das contas, parece-me que a história humana também é a história do desprezo á Res Extensa, a renúncia ao corpo, e sua particular vontade. O francês René que o diga!
                    Utilizo-me de mais uma citação de o nascimento da tragédia para conceituar ainda mais um dos atributos da produção artística e musical de nosso atual contexto, e pra ser bem sincero, a máxima pela qual ele é constituída: “Tudo deve ser  inteligível para ser belo”, como sentença paralela á sentença socrática: “Só o saber é virtuoso”. (NIETZSCHE, 2007, pag. 78). Logo, penso que a vivacidade e a força da música de nossos tempos tem por intuito se objetivar no ideal de belo socrático com dedicação e técnica nos acordes, com a letra bem rebuscada e bem pautada, e com a maestria, técnica e delicadeza em não afinar na voz, que o diga toda a dedicação de nossa “bossa nova”.
“Tudo deve ser consciente para ser belo”e como já disse o lema paralelo ao principio socrático: Tudo deve ser consciente para ser bom” (NIETZSCHE, 2007, pag. 80-81). O socratismo condena o instinto, ajunta pedras para atirar em toda e qualquer manifestação estética em que os instintos e as forças sensíveis dos humanos estejam manifestadas pois só o intelecto é belo, só a razão ordena e direciona o mundo, só a atividade de pensar justifica nossa realidade! A música de nossa época caminha na maldição socrática que tanto Nietzsche condena: Como animais domesticados, nos doutrinamos em ouvir músicas que  manifestem uma letra bem ornamentada (ou não), belos acordes técnicos e uma suave voz.
                 Em outros casos, procuramos receber ou captar rapidamente a informação e o que uma canção quer enfatizar. E os exemplos disso são atuais e deploráveis! É só observar nas ruas, os automóveis tocando em alto e bom tom (ou não) os diversos “tchêtchêrêrêtchêtchê” ou “Eu quero tchú, Eu quero tchá” da nova onda do momento, o “sertanojo”. Ou ligar ao domingos e assistir ao canal da rede de televisão Globo, o alegre programa “esquenta” da apresentadora Regina Casé e seus convidados cantando músicas que mais parecem ser entoadas por sílabas ao em vez de letras: como o lêlê dos pagodeiros convidados e dos “tchus” e “tchas” dos cantores de “sertanojo” universitário.
“Olha que coisa mais linda mais cheia de graça É ela menina que vem e que passa num doce balanço a caminho do mar.” (Garota de Ipanema do compositor Tom Jobim como a personificação do espirito apolíneo da arte)
“Nossa! Nossa! Assim você me mata, ai se eu te pego, ai ai se eu te pego...” (Música Ai se eu te pego do “considerado” cantor Michel Teló bem como representação dos homens de nossos tempos: Uma sociedade apressada e impaciente que buscam absorver o mais rápido possível uma informação, ou idéia pois o “tempo é dinheiro” ou “tempo é sagrado”.)

                   Nossa atual época é caracterizada pela predominância do Deus do sonho e da perfeita imagem Apolo, seja nas manifestações e reprodutibilidade do fenômeno artístico ou a conduta de nosso agir humano acompanhada com fortes colheres de sopa da tradição socrática! E penso que principium individuationis, este nunca esteve tão latente a queimar em nossas veias e artérias!
                Contudo, penso ainda ser possível encontrarmos em meio a decadência personificações do espirito Dionisíaco em nossos tempos no espirito da música. Ou, especialmente em uma música onde indico que o Uno-primordial converte todos os aqueles indivíduos engravatados no principio de individuação! O gênero é o heavy metal: Sim, aquele pesado e exorbitante gênero musical desenvolvido entre as décadas de 1960 e 1970, com seu verdadeiro apogeu nos anos 80 vingando até hoje com algumas notáveis bandas. Este estilo musical, que tem como característica altas distorções de guitarras amplificadas, com as pesadas batidas do bumbo de uma bateria em meio á agressividade e a força desmensurada do vocalista, seja homem ou mulherconcilia-se com objetivo destas linhas até: O ressurgimento do espirito trágico através de uma canção deste gênero.
                    Não pretendo me alongar sobre o gênero heavy metal, mas concentrar-me em uma canção de um grupo Norte-americano constituído nos anos 1980. Tal banda atende pelo nome de Metallica, um grupo norte-americanode heavy metal formado no ano de 1981 na cidade de Los Angeles, California. A banda foi formada pelo então vocalista e frontman James Hetfield e pelo baterista de origem dinamarquesa Lars Ulrich onde ambos estão até hoje na banda.
                    O grupo Metallica é reconhecido mundialmente, seja por fãs de heavy metal ou rock, ou até mesmo pessoas que não apreciam o gênero como a minha mãe, de tanto ouvir Metallica contra a sua vontade, pelo filho que aprecia o barulhento som do grupo norte-americano. A banda certamente possuiu seu apogeu no inicio dos anos 1980 com o primeiro disco intitulado Kill em All: Uma verdadeira explosão de solos distorcidos, vocal rasgado e agressivo e uma veloz bateria! O segundo disco lançado em 1983, atende pelo nome de Ride thelightning, com diversas canções que se tornaram hinos entoados pelos fãs como Ride thelightning (música que leva o titulo do disco), FightFirewithfire e a excelente balada Fade toblack.
                   No caminhar da história do grupo, o Metallica lança em 1986o álbum que se tornaria indispensável na coleção de cd’s de diversos fãs headbangers. O Master ofPuppets foi considerado um dos melhores álbums de heavy metal da história e certamente o mais completo de toda a banda por reunir toda a gama e essência do grupo: Agressividade, força latente no bumbo das baterias, eletrizantes e viajantes solos de guitarra e o vocal de James Hetfield perfeitamente entoado com clássicos que vão desde daeferverscenteBattery e Welcome Home(Sanituarium). Já em 1990 temos o lançamento do álbum preto, ou Black Album: Um disco que considero razoável e com excelentes músicas como as baladas The unforgiven e Nothing ElseMatters , a partir dai é só decadência, pois numa tentativa de atrair mais fãs, o grupo mudou e mudou desde aparência até a proposta musical, num movimento que eu consideraria porque não um movimento apolíneo de imagem, ou mera reprodutibilidade. O Metallica perde o brilho e desde já, decepciona muitos fãs a partir dai.
                    Não pretendendo me alongar sobre os péssimos álbuns lançados pelo grupo Metallica, mas me concentrar numa canção que emerge todos os elementos do frênese dionisíaco, proporcionado a convergência daqueles que a apreciam no Uno-primordial tanto comentado neste breve texto. A música atende pelo nome de The CallofKtchulu,uma canção do disco Ride the Lightning mencionado anteriormente.
                     Esta canção que não possui letra e é portanto uma instrumental de 9 minutos que personifica para mim (e para quem escutá-la) toda a efervescência e força do Deus Dionísio, o aparecimento do uno primordial naqueles ouvintes e apreciadores. Como instrumental, a canção começa com uma leve de guitarra, tranquilo onde o Deus Floresta repousa em meio aos seus para acordar e demonstrar toda a virilidade de sua força e potência no entoar do peso da bateria e no barulho dos riffs de guitarras! Impossível não sentir a vivacidade do espirito de Deus em meio aos delirantes solos de guitarra que evocam a voz do Deus da embriaguez Dionísio numa gama de sentimentos que explodem no decorrer dessa canção, mesclando prazer á raiva, agonia á êxtase e que por mais que possa a descrevê-la, mal consigo representar conceitualmente nestas linhas o prazer deste fenômeno! Sinto-me tocado, de mãos atadas converto-me em Uno-primordial na companhia do Deus da floresta.
                      Por fim, pontuo uma citação da Obra O nascimento da tragédia no Espirito da música que razoavelmente caracteriza a canção The Call of Ktulu do grupo de Heavy Metal Metallica em essência da música Dionsiaca: “A comovedora violência do som, a torrente Unitária da melodia e o mundo absolutamente incomparável da harmonia. No ditirambo dionisíacoo homem é incitado á máxima intensificação de todas suas capacidades simbólicas” (NIETZSCHE, 2007, pag. 32)
                      O ditirambo dionisíaco é a música entoada aos cultos ao Deus Dionísio, entoado pelo coro e pelo solista com acompanhado da flauta. Assim como o ditirambo dionisíaco,a canção de The Call of Ktulu é o que eu chamaria de a possibilidade de um culto moderno e celebrador ao Deus Dionísio nos tempos de hoje. Onde os homens se rendem a potente deste Deus, convertendo-se em Uno-primordial ondeo corpo e os sentidos são tomados e concentrados na força do Deus da floresta.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Biografia virtual sobre o Metallica
Letra de música “Garota de Ipanema” do compositor Tom Jobim e “Ai se eu te pego” de Michel Teló
NIETZSCHE, Friedrich, 1844-1900. O nascimento da tragédia ou helenismo e pessimismo/Friedrich Nietzsche: tradução notas e posfácio: J. Guinsburg.___São Paulo: Companhia das letras, 2007


Exercícios de Leitura

Prezados,
Estou publicando aqui a partir de agora as primeiras linhas dos exercícios de leitura dos discentes participantes do Grupo. São textos livres, frutos de discussões abertas tangentes aos problemas tratados nas leituras de O nascimento da tragédia. 

O objetivo destes exercícios consiste na socialização de ideias e no estímulo à auto-crítica dos autores, funcionando como um ensaio para seus futuros artigos.

Lass uns gehen!


terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Reunião confirmada: 15/01/2014

Reunião confirmada às 18:30 no mesmo local. Até lá!

Nietzschesource

Pessoal, o nietzschesource é um site mantido pela Association HyperNietzsche que apresenta versões digitais das edições críticas de Colli e Montinari dos trabalhos completos do Nietzsche. Também há reproduções em facsímile de manuscritos e outros textos para fins acadêmicos. Confiram!

http://www.nietzschesource.org/documentation/en/home.html