sábado, 2 de maio de 2015

NIETZSCHE, CASPAR DAVID FRIEDRICH E O ANDARILHO


Fonte da pintura:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caspar_David_Friedrich#/media/File:Caspar_David_Friedrich_-_Wanderer_above_the_sea_of_fog.jpg


Esta pintura é intitulada Der Wanderer über dem Nebelmeer (O viajante sobre o mar de névoa) e foi feita por Caspar David Friedrich em 1818. Esta obra, que pertence ao período do romantismo, tem alguma relação com a ideia do andarilho, noção desenvolvida por Friedrich Nietzsche?

“A obra artística de Caspar David Friedrich, imersa em uma luz crepuscular, constitui-se, talvez, no corolário dessa perspectiva, em que o “olho espiritual” e não o “olho do corpo” dialoga com o mundo exterior, como em um processo mediúnico.” (CHAVES, 2005, p. 277)

A obra romântica não teria o olho do corpo, mas sim o olho espiritual, e, assim, não seria como um andarilho ou o espírito livre, que se desprenderam das categorias metafísicas, incluindo o olho espiritual, e buscando aquilo que é pertencente a uma filosofia histórica, a uma filosofia científica, que são consideradas a partir de um novo ponto de vista: o corpo. Assim, esta obra não representaria o andarilho de Nietzsche. Entrentanto, Nietzsche afirma em Humano, demasiado humano II:

“237. O andarilho fala para si mesmo na montanha. — Há indícios seguros de que você avançou e subiu: agora o espaço é mais livre e a vista mais ampla ao seu redor, o ar que o envolve é mais fresco, mas também mais suave — você desaprendeu a tolice que era confundir suavidade com calor —, seu andar se tornou mais vivo e mais firme, ânimo e circunspeção cresceram conjuntamente: — por todos esses motivos, seu caminho agora pode ser mais solitário e, em todo caso, mais perigoso do que o anterior, embora não tanto, certamente, quanto acreditam aqueles que, do vale nebuloso, o veem caminhar pela montanha.” (NIETZSCHE, 2008, p. 111-112)

Um julgamento de que, neste aforismo, Nietzsche estaria descrevendo a pintura acima, seria totalmente equivocado? Nietzsche é romântico?




CHAVES, Ernani. O trágico, o cômico e a "distância artística": arte e conhecimento n'A Gaia Ciência, de Nietzsche. Kriterion, vol. 46, nº 112, Belo Horizonte, Dezembro de 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/kr/v46n112/v46n112a11.pdf>. Acesso em 2 mai. 2015.

NIETZSCHE, Friedrich. Humano, demasiado humano: um livro para espíritos livres volume II. Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.



Um comentário:

  1. talvez a ação acima dos sonhos...a vontade prevalecendo sobre um pensamento! materializada...somos aquilo que mais praticamos!

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