quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Coro trágico como protofenômeno dramático

Dionísio, bêbado, pende sobre um sátiro – gravura, de Marcantonio Raimondi

"O encantamento é o pressuposto de toda a arte dramáti­ca. Nesse encantamento o entusiasta dionisíaco se vê a si mes­mo como sátiro e como sátiro por sua vez contempla o deus, isto é, em sua metamorfose ele vê fora de si uma nova visão, que é a ultimação apolínea de sua condição. Com essa nova visão o drama está completo. 
Nos termos desse entendimento devemos compreender a tragédia grega como sendo o coro dionisíaco a descarre­gar-se sempre de novo em um mundo de imagens apolíneo" (NIETZSCHE, 1992:60). 

A sensibilidade como método

"A forma do teatro grego lembra um solitário vale montanhoso: a arquitetura da cena surge como uma luminosa configuração de nuvens que as ba­cantes a enxamear pelos montes avistam das alturas, qual mol­dura gloriosa em cujo meio a imagem de Dionísio se lhes revela" (NIETZSCHE, 1992:59). 

Poesia: expressão da verdade

Friedrich Schiller, retrato de Ludovike Simanoviz (1794)

"Schiller tem razão também em relação a estes inícios da arte trágica: o coro é uma muralha viva contra a realidade assal­tante, porque ele - o coro de sátiros - retrata a existência de maneira mais veraz, mais real, mais completa do que o homem civilizado, que comumente julga ser a única realida­de. A esfera da poesia não se encontra fora do mundo, qual fantástica impossibilidade de um cérebro de poeta: ela quer ser exatamente o oposto, a indisfarçada expressão da verda­de, e precisa, justamente por isso, despir-se do atavio men­daz daquela pretensa realidade do homem civilizado" (NIETZSCHE, 1992:57).

Sublime e Cômico


A Sodomia da Brancura na Capelinha do Coronel Oleoso Butela (2011)
Thiago Martins Melo
 `´Oleo sobre tela 200x140 cm.

"Aqui, neste supremo perigo da vontade, aproxima-se, qual feiticeira da salvação e da cura, a arte; só ela tem o poder de transformar aqueles pensamentos enojados sobre o horror e o absurdo da existência em representações com as quais é pos­sível viver: são elas o sublime, enquanto domesticação artísti­ca do horrível, e o cômico, enquanto descarga artística da náu­sea do absurdo. O coro satírico do ditirambo é o ato salvador da arte grega; no mundo intermédio desses acompanhantes dionisíacos esgotam-se aqueles acessos há pouco descritos" (NIETZSCHE, 1992:56).

Estética e Experiência Dionisíaca



Triunfo da Morte sobre Curral Cleptocrata (Após Geoffroy Tory). Thiago Martins Melo. Óleo sobre tela 260x180 cm. Astrup Fearnley Museum. 


"(...) o perfeito espectador ideal deixa o mundo da cena atuar sobre ele, não ao modo estético, mas sim corpóreo, em­pírico. "Oh, esses gregos!", suspirávamos nós. "Eles nos põem por terra a nossa estética!" Mas, uma vez acostuma­dos a isso, voltávamos a repetir a sentença schlegeliana, sem­pre que o coro vinha à baila" (NIETZSCHE, 1992:53).

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Confirmada reunião do dia 11/12/2013.

Prezados, eu voltei! Já estou caminhando com uma muleta e uma bengala - muito divertido! =)
Ontem conversei com Leonardo e os Rodolfos no Paulo Freire e soube que estamos no capítulo 10.
Na reunião de amanhã seria importante que dedicássemos o encontro às dúvidas e divergências ocorridas nas duas reuniões anteriores em que estive ausente. Penso que isto será mais produtivo para seguirmos adiante.
Saudades!
Abraços!

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Música como vontade: um medium entre o di-viduum


"Se nos é lícito, portanto, considerar a poesia lírica como a fulguração imitadora da música em imagens e conceitos, neste caso podemos agora perguntar: como é que aparece a música no espelho da imagística e do conceito? Ela apare­ce como vontade, tomando-se a palavra no sentido de Scho­penhauer, isto é, como contraposição ao estado de ânimo estético, puramente contemplativo, destituído de vontade". (NIETZSCHE, 1992:50)
 Narciso, c.1597-99
Caravaggio, [Michelangelo Merisi da Caravaggio](1571-1610)
óleo sobre tela,  110 x 92 cm
Galeria Nacional de Arte Antiga, Palazzo Barberini, Roma

Nietzsche evidencia destacadamente (cp. 6) que não se trata de uma essência da vontade, mas de uma manifestação, de uma aparência para falar da música. O in-dividuum converte-se em di-viduuum: o lírico consegue observar a sua imagem segundo a aparência da vontade e, num ímpeto de insatisfação, divide-se em imagem e intérprete. A condição do gênio apolíneo é hermenêutica: dá-se uma interpretação da imagem do querer. Há uma apreensão de algo juntamente com aquele que apreende. 

Ausência na reunião do dia 04.12.2013!

Prezados,

Os problemas ortopédicos e bioquímicos permanecem. Não estarei presente novamente na reunião. Estou triste porque sinto saudades das nossas discussões nietzscheanas e suas "nietzschidades"! 

Ficarei feliz, contudo, se, como na semana passada, houver a reunião mesmo sem mim. "Retribui-se mal um mestre quando se permanece sempre e somente discípulo" (NIETZSCHE). A independência intelectual e o prazer da confraria discursiva são fenômenos marcantes da vida filosófica. 

Seria importante que vocês trouxessem para cá as dúvidas e/ou divergências que ficaram no último encontro. Podemos ir discutindo por aqui. Assim não morro de saudade de vocês nem me sinto tão ortopedicamente entediada!

Amanhã vou ao médico e "terei notícias do meu futuro".

Abraços a todos.